terça-feira, 27 de maio de 2014

Ògún

QUALIDADES DE ÒRÌSÀ... – ÒGÚN

Ogun
Olá, àwon òré mi!
Eis -me aqui novamente para continuarmos o nosso assunto anterior, sobre “Qualidades de Òrìsà...”. 

Hoje falaremos das "Qualidades de Ògún" e, se houve tempo, dos demais Òrìsà em geral. Sempre em conversas, quando digo que sou filho de Ògún, perguntam-me, de “qual qualidade é o meu Ògún”. Então eu digo que sou Omo Ògún e que não tem qualidade alguma. Muitas pessoas não entendem ou não aceitam isso. Pois, instituiu-se dezenas de “qualidades” para cada Òrìsà. Muitos vangloriam-se de serem conhecedores dessas “qualidades”, que no fundo, não passam de oríkì de louvação a cada Òrìsà ou especifica a região onde ele é cultuado.

Ògún é o Òrìsà conhecido quase que exclusivamente como o Òrìsà das lutas, guerras, brigas, confusões, nervoso, teimoso e de fácil irritabilidade. Mas, muitos se esquecem de dizer de suas qualidades amenas (aí no sentido da capacitação como o patrono das artes que exigem destreza manual); o guia nos caminhos; lavrador, caçador, etc.

Ògúnjà ou Ògún jà:
É quando Ele exerce a sua atividade de guerreiro, militar e querelante. É quando Ele realmente está para briga. 



Ògún Sórókè:
Tida como uma das “qualidades” mais conhecidas, violentas e preferidas de Ògún, mas, que na verdade significa: Sé orí òkè; que contraído dá Sórókè. Dizem, que é um Ògún bravo e sanguinolento como resultado de sua “mistura” com Èsù

Uma das lendas de Ògún, conta que Ele estava no alto da montanha, para onde ia quando saía à caça, pois, Ele é também um Òrìsà Ode (Caçador). Essa lenda inicia-se por contar que: “Ojó ntí Ògún sórókè bo...” (No dia em que Ògún estava no alto da montanha e desceu...). Esse era o dia que Ele havia marcado para seu retorno à cidade. Mas, diz essa mesma lenda, que Ògún é um Òrìsà que não suporta que o ignorem. Ele é Òrìsà Pàtàkì (importante), e não tolera que não lhe dêem a devida importância e atenção. Nessa cidade morava, na mesma época, um desafeto de Ògún, que era conhecido como um grande feiticeiro (Osó), que se chamava Àparò Degbeaha. E sabedor desse fraco de Ògún, Àparò organizou uma cerimônia ritual na cidade, em que as pessoas teriam que ficar sem falar, comer e beber por um dia inteiro. E esse dia coincidiria com o dia da chegada de Ògún, somente para irritá-lo.

Quando Ògún chegou na cidade, ninguém falava com Ele, ninguém o saudou como Òrìsà importante, aquilo já o deixou enfurecido. Mas, como Ele estava com fome, dirigiu-se a uma cantina para que lhe servissem comida e emu (vinho de palma). Chegando lá, ninguém o saudou, nem lhe dirigiu a palavra. Ele pediu que lhe dessem comida e bebida, mas, ninguém lhe respondeu alguma coisa ou serviu-o, porque naquele dia era dia de abstinência total. Quando Ele insistiu e mais uma vez foi ignorado, pegou o facão e golpeou os barris de vinho, derramando tudo no chão; quando vieram para impedir que Ele fizesse aquilo, Ele cortou as pessoas ao meio. E dizem, que quando Ògún fica nervoso, ele perde completamente o juízo. E assim foi. Ele matou homens, mulheres, crianças e depois foi para casa.

No dia seguinte foram à sua casa para lhe pedirem que Ele não continuasse zangado com o povo da cidade, e lhe explicaram o que tinha acontecido e do festival organizado por Àparò. Quando tomou conhecimento de tudo, Ògún ficou enfurecido, mas, desta vez, contra Àparò. Pois, ao saber que matara tantas pessoas inocentes por causa dele Àparò, Ògún sentiu grande arrependimento, mas, o mal já estava feito.

Ele saiu à procura de Àparò, este quando avistou Ògún vindo em sua direção, fugiu. Mas, Ògún perseguiu-o. Àparò estava desesperado, pois, sabia que Ògún não teria compaixão dele. Então, fugiu, mas, Ògún o perseguiu, e quando estava quase sendo alcançado por Ògún, Àparò transformou-se num pássaro e voou para o alto do igi opé (a palmeira de Òrúnmìlà). Como era uma palmeira sagrada, ele achava que Ògún não a tocaria. Mas, estava enganado, Ògún começou a golpear a palmeira, acabando por derrubá-la. Num último esforço de esperança, Àparò, escondeu-se por entre as folhas da palmeira, pois, achava que Ògún não cometeria o sacrilégio de destruir toda a palmeira de Òrúnmìlà. Estava enganado novamente. Ògún desfolhou a palmeira e agarrou Àparò, que pediu clemência, mas Ògún sem responder nada, cortou-lhe a cabeça que rolou diante de si, que sentiu-se vingado. Como Àparò era um feiticeiro poderoso, não morreu imediatamente. Ele olhou para Ògún e lançou uma praga, dizendo: “Você Ògún, insensato que é, na hora da minha morte eu lhe coloco meu último feitiço, o de que você haverá sempre de fazer coisas na hora da raiva e se arrepender tardiamente, como foi hoje. Essa maldição cairá sobre você Ògún e todos os seu filhos, que haverão de fazer coisas na hora da raiva e se arrependerem depois, quando já não houver mais conserto”. E tendo dito isto, morreu.

A história conta que foi a partir daí que Ògún sempre que ia matar um desafeto, amarrava suas mãos, pés e prendia sua boca, para que ele não lhe rogasse praga, como Àparò. Daí também, os sacerdotes que executavam sacrifícios, passaram a imobilizar suas vítimas porque também temiam a praga de Àparò Degbeaha. É o que fazemos até hoje quando vamos sacrificar qualquer animal no ritual, prendemos suas bocas ou bicos, patas e asas, para que não se debatam. Esse debater é interpretado como uma praga na hora da morte, e não se quer dar chance a nenhuma das vítimas dos sacrifícios de amaldiçoarem seus executores.
Como dizia na maldição de Àparò, Ògún não sentia paz por causa de ter matado tanta gente inocente.
Então, reuniu as pessoas da cidade e disse-lhes que iria embora e que só voltaria se precisassem da sua ajuda. Mas também deveriam reverenciá-lo e saudá-lo assim: “Pàtàkì Òrìsà”. Então, enfiou sua espada no chão e sumiu por dentro da terra.

E conta ainda, que Òrúnmìlà, não permitiu que essa praga caísse por sobre todos os filhos de Ògún, que também eram inocentes, e ensinou-os um oríkì que diz: “Má jékí orí mi rí ìjà Ògún...” (Não permita que minha cabeça veja a briga de Ògún). Pois dizem que a cabeça que vê a briga de Ògún, torna-se maluca, a pessoa enlouquece totalmente.

A história foi um pouco longa, mas ela tem relação com a fama do mau comportamento de “Ògún Sórókè”, que não é qualidade, mas algo que se diz sobre Ògún.

Ògún Aláàgbède:
Ògún é ferreiro, uma de suas profissões com forjador de metais.

Ògún gbénòn-gbénòn:
Ògún é carpinteiro, patrono dos artesãos que trabalham com entalhes e nas confecções de móveis e utensílios de madeira.


Ògún Elémònòn:
Ògún, Senhor que conhece o caminho, é padroeiro dos motoristas.

Ògún ìkolà:
Ògún que usa marcas no rosto. Marcas faciais que indicam a origem tribal, status e descendência. (kolà ojú).

Ògún OníÌré:
Ògún, Senhor da cidade de Ìré. Título que recebeu como uma espécie de “padroeiro” da cidade de Ìré.

Ògún AláArá:
Ògún, Senhor da cidade de Ará. Título também recebido como “padroeiro” da cidade de Ará.

Ògún Méje:
Ògún sete, esse número é menção às sete sementes que Ògún plantou nos sete caminhos por onde passou. “Kàtà-kàtà ó gbìn méje, ó gbìn méje ònòn gbogbo”.

Ògún Dàgòlóònòn kò yá:
É tida como a mais “nova qualidade de Ògún” dentre os experts, mas, na realidade apenas se está pedindo licença ao Senhor dos caminhos e que esses caminhos nos sejam suaves de percorrer.

Se para falar de tristeza meu tempo não dá, meu tempo não dá...(Zeca Pagodinho); o meu também não, se for para falar de “qualidades de òrìsà”. Como me estendi um pouco falando sobre Ògún, continuaremos na próxima semana, sobre mais alguns òrìsà.

Ó di òsè tó nbo! Àse àti ki Ògún ìwúre wa!

Altair t’Ògún

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Continue acreditando

O caminho atual das casas de candomblé do Brasil

   Quando resolvi escrever este texto, procurei as palavras adequadas, para que ninguém pudesse se sentir ofendido, ou quem sabe até ridicularizado diante dos acontecimentos atuais dentro das comunidades de Candomblé do Brasil. As pessoas que me conhecem sabem do meu interesse na Cultura Afro-Brasileira, no idioma yorùbá e no Culto aos “Orixá”, portanto não quero criar nenhuma polêmica com o texto, é só uma tentativa de resgate mesmo. Observo... Ouço... Vejo atentamente todos os relatos dos meus amigos, e outros que ainda compartilham publicamente assuntos relacionados ao Candomblé e ao Culto Afro, entendo que as pessoas gostam de novidades, de motivos para seguirem e continuar acreditando, mas se esquecem que isso nada mais é do que o vazio que nunca será preenchido, pois acredito que sempre vai ter algo de novo, alguma coisa para criar, inventar, chamar a atenção das pessoas que nunca estão satisfeitas com o que tem, para que enfim o ciclo das invencionices continue, trazendo cada vez mais adeptos e clientes que buscam a solução imediata para os problemas que elas mesmas criam no seu dia a dia. A muito pouco tempo todos freqüentavam casas de Candomblé, faziam seu jogo de búzios, tomavam seus banhos de ervas, cumpriam com suas obrigações acreditando que tudo seria solucionado, participavam das festas anuais e estava tudo certo. (meu filho! Cozinhe a canjica branca e separe a água para o banho). Lembro-me da nação de Angola com suas festas de Boiadeiro, quitutes deliciosos servidos aos convidados, e das casas de Ketu com todo o seu ritual e preceito em para oferecer um amalá para “Xango”. O que está acontecendo com o Candomblé? O que houve com a comunidade? Porque as pessoas e os adeptos não têm mais tempo para colaborar no dia a dia do terreiro? Pois este afastamento gera inevitavelmente o acumulo de funções para o sacerdote. Um ponto importante nos dias atuais é que a moda é ser “Babalawo”, são pessoas, que na sua grande maioria para mim, tem muito que aprender a respeito de Ifá, antes da iniciação, entender que somos brasileiros e não africanos, respeitar isso é o primeiro ponto importante, mas acredito que o orgulho e o “Status” falam mais alto nessa hora. Ifá é matemática, medicina, filosofia de vida. Como podem ignorar a sua iniciação no Candomblé? Porque o culto aos “Orixá” de 20 anos atrás parece não servir mais? Desde quando Babalorixa pode ser Babalawo?. As pessoas que buscam o estudo e aprendizado assim como eu, e que tiveram a oportunidade de conhecer  Africanos, e estudiosos, dedicados ao compromisso de aprender, sabem que isso não pode ser verdade, nunca vi um Babalorixa estar apto para atender e resolver os problemas dos adeptos, clientes, ou seja lá quem for em 20 ou 30 dias, assim também um Babalawo nunca vai estar pleno em seus conhecimentos em  20 ou 30 dias, que é o tempo maximo de permanência desse povo na África, o tempo de aprendizado é longo e árduo, para o Sacerdote é durante toda a sua vida. Sinto saudades do tempo em que até mesmo as pessoas com mais de 30 anos de iniciação tiravam os sapatos, quando se dirigiam para o barracão, ajudavam nos preparativos das festas e não se sentiam mal por isso, e até mesmo serviam os convidados, com carinho e amizade, do tempo em que tomar a benção não era vergonha como é hoje em dia, claro que existem pessoas muito rigorosas e outras muito doidas, com regras absurdas e que os adeptos são até certo ponto maltratados e buscam outros caminhos, acredito que é valido, se for para melhorar e trazer equilíbrio para a pessoa. Enfim, observo... Ouço... Vejo atentamente tudo que acreditamos e nos dedicamos se afastando de nós, por isso devemos continuar acreditando. E mais uma confusão sendo formada na cabeça das pessoas, que muito em breve vão descobrir que a duvida vai continuar, e o vazio nunca será preenchido, pois o Culto é simples e repetitivo, nada mais.