domingo, 6 de maio de 2012


O Alaafin de Oyó - artigo da revista inglesa Focus

Ele, o Alaafin do reino de Oyó, Alaiyeluwa Oba (Dr.) Abdul Hameed Olayiwola Adeyemi III, é um monarca com classe.
É um enigma para qualquer referência, e a oportunidade de encontrá-lo é como uma aventura através de uma aula de história.
Esse monarca essencialmente urbano, que trabalhou como corretor de seguros antes de atender ao chamado natural dos deuses, através do Oyomesi para subir ao trono de seus antepassados como Alaafin do maior reino da historia da raça negra- O Reino de Oyó - é um homem sempre à vontade consigo mesmo, e que exala confiança em todas as suas ações.
Uma das características brilhantes desse grande monarca é o profundo conhecimento e precisão para recontar eventos históricos com personagens e fatos; e com uma precisão que surpreende a imaginação da jovem intelectualidade.
O Alaafin apesar de sua idade, ainda se lembra de fatos ocorridos a mais de cem anos atrás, e ainda escreve seus roteiros sem ajuda.
Ele é um leitor consumado que poderá passar qualquer dia por um mestre de historia e arqueologia moderna e antiga.
Ele conversou recentemente com a equipe editorial da Focus, em seu amplo palácio, de uma variada gama de assuntos, concentrando-se principalmente na rica herança do reino de Oyó.

Sejam benvindos à essa excursão histórica!

Focus:
Kabiyesi nos gostaríamos que você recontasse a história do famoso reino de Oyó para o proveito de suas crianças na Diáspora.

Alaafin:
O velho Império de Oyó era formado por uma das primeiras e provavelmente, a maior raça independente na África ocidental, ao sul do equador. No auge de sua existência, o velho Império dominava todos os reinos Iorubas como Ifé, Ijesha, Egba, Ijebu , Sabé e Owu. A área ocupada pelo reino Ioruba no sudoeste da Nigéria esta contida aproximadamente na latitude de 5 a 8 graus ao norte do equador e 5 a 21/2 graus de longitude ao leste. Existem duas versões para a origem da raça Ioruba- a migração e forma aborígine. Essas duas teorias não são necessariamente contraditórias pelo fato de que nossa tradição oral foi trazida por povos essencialmente estrangeiros.
Mas esse fenômeno é universal uma vez que você pode ter ao mesmo tempo brancos na África do Sul; as Rodesias do sul e do leste, convivendo juntas ha muito tempo. A mesma experiência esta registrada no caso das migrações, pelas evidencias históricas e empíricas documentadas nas famosas conferências das series Lugard, assim como nas pesquisas de Saburi Biobaku (um historiador reverenciado mundialmente) que a raça Ioruba é tão grande e espalhada, que ainda se considera nos dias hoje em dia como um dos maiores e mais fortes impérios que já existiram, em todo continente africano.
O reino de Oranmiyan marcou uma nova etapa na história Ioruba, por testemunhar a transferência do poder politico de Ilê - Ifé para Oyó, e dai em diante Oyó tornou-se o centro politico da raça ioruba, aonde governa o Alaafin.
De acordo com estudos históricos, estima-se que o palácio de Oyó tenha tido uma área de aproximadamente 640 acres de terra. Ainda temos escavações do velho Império de Oyó, e algumas das paredes ainda estão de pé na sua forma original, durante todos esses séculos. Esse é um grande testemunho da engenhosidade arquitetônica da raça Ioruba.
O velho império Ioruba distinguiu-se dos demais por três motivos principais.
Primeiramente desenvolveu uma Constituição magnífica, apesar de nunca ter sido escrita. O povo era governado por uma forte cúpula.
Em segundo lugar os iorubas, desenvolveram um sistema militar que lhes permitiu aperfeiçoar o material bélico. Os Iorubás formam os primeiros ferreiros, construindo as primeiras fundições onde também produziam implementos agrícolas para expandir a produção de alimentos.
Em terceiro lugar desenvolveram um método bastante prático de administração, adotando um sistema de governo de gabinete. Se você conhecer a historia da Constituição Britânica, ira perceber que o sistema de gabinetes surgiu apenas como uma forma de expediente temporário, e não por desígnio. Portanto, voltando ao século XVI, foi no velho Império de Oió é que foi criado o sistema de governo por Gabinete. E do Primeiro Ministro ao Alaafin, dos vários chefes de divisões, todas as camadas tem suas funções e responsabilidades claramente definidas, e mantidas com separação de poderes, fiscalização e balanço.
A estrutura do comando militar é tão excepcional, que os Aare Ona Kakanfo, generalíssimos do poderio militar, tenham conduzido com sucesso os senhores da guerra de Oyó nas muitas batalhas entre os séculos XIII e XVI para preservar a integridade territorial da raça Ioruba.
Durante esse tempo, Oyó estendeu suas fronteiras ate os limites de Nupe, Daomé, Abomé, Wema, e outras partes do Togo. Esses povos são as atuais crias do grande reino Ioruba.

Focus:
Pode-se dizer que essas áreas anexadas foram parte de um plano expansionista?

Alaafin:
Eu não vou dizer que seja. Mas veja você, se estiver rodeado de vizinhos hostis, tem que estar vigilante. Treinamos nosso exercito para defender todas as agressões externas, assim como para proteger a nossa integridade territorial para termos paz e prosperidade econômica. E para os Iorubas que são comerciantes natos, caminharem ate seus negócios sem sentirem-se inseguros , enquanto houvesse um Alaafin governando, haveria necessidade de espalhar nosso poderio militar para proteger nosso povo em toda parte.
Quando o Daomé atacou a pequena província de Wema em 774, os chefes reais refugiaram-se em Oyó para se proteger.
O Alaafin teve que organizar forças para recapturar a cidade, e foi assim que naquele tempo, o Daomé ficou sob o controle do Alaafin.
Isso não podia ser chamado de expansionismo, e sim a resposta para a agressão por outras forças que ameaçavam a existência das pequenas províncias. Se você ler nos livros de história, vai perceber que a mera menção de “Alaafin ou Oyó” causava medo nas cidades vizinhas.
Devido a sua rica história cultural, politica, linguística e tradicional, ha muitas coisas que Oyó proporcionou para a nação Ioruba. A língua que falamos é a autentica versão do dialeto Ioruba, os tambores, as roupas que usamos, a maneira como construímos nossas casas, nossos engenhosos sistemas de corredores, e nosso sistema de drenagem que foi criado ha muitos séculos atrás. Pode-se dizer que a civilização se iniciou com a raça Iorubana. Os iorubas estabeleceram contato com os portugueses nos idos do século XVII, e o Alaafin manteve seu embaixador na corte de Portugal desde então.

Focus:
Kabiyesi, você disse que a civilização começou aqui. Poder-se-ia dizer que os Iorubas eram Oyó e vice versa?

Alaafin:
Os Oyós não eram chamados originalmente de iorubas. Outros grupos da raça ioruba se designaram naquele tempo, (séculos atrás) como Egbas, Ijeshas e quaisquer nomes que preferissem. Mas no século XIX, não havia mais motivo para forjar um terreno comum e ter um padrão linguístico, portanto o dialeto Oyó foi adotado por todos Iorubas. Por isso os Iorubas são Oyós na sua origem.

Focus:
Muitos jovens Iorubas acham que uma cidade como Ilorin deveria estar sob o reino de Oyó. E recentemente alguns chefes foram promovidos como chefes tradicionais mais conceituados. Qual é o ponto de vista deKabiyesi?

Alaafin:
Veja você, a agua vai sempre encontrar o seu nível, e a história é muito potente, mesmo que tentemos faze-la submergir. É como água e sangue, e você também sabe que sangue é mais denso que a água. Ilorin foi sempre uma cidade Ioruba. Afonjá foi enviado como generalíssimo dos soldados Iorubas, para proteger e aquele lado do reino de Oyó, da invasão dos Fulani e dos Nupes.
Por algum motivo ele se tornou muito ambicioso e convidou os grupos dissidentes para o seu campo, excluindo-se dos grupos étnicos maiores. Percebendo que ele os havia traído, o contingente ioruba organizou um golpe e o depôs.
A história de Ilorin está bem documentada. Não ha lugar nenhum na África que você possa encontrar um Fulani reclamando a posse de Ilorin. A língua, a cultura, nomenclatura, e mesmo as tradições de Ilorin são Iorubas. Não ha disputa sobre esse fato empírico.

Focus:
Como é que vossa Majestade administra esse amplo palácio? Recebe fundos do governo e por qual motivo esse palácio não desenvolveu o status de atração turística?

Alaafin:
Bem, eu escrevi muitos memorandos para o governo declarar esse palácio um monumento nacional. Primeiramente como a principal atração turística e, além disso, para o povo. Podemos perceber de longe ingenuidade arquitetônica do nosso povo, portanto todas essas coisas não estão perdidas, para o beneficio das gerações atuais e vindouras.
Quando o professor Armstrong (um americano) que foi o diretor do Instituto de Estudos Africanos de Ibadan, leu o memorando, ele veio aqui. Eu o conduzi pelo palácio , e pelos subterrâneos que permitem ao Alaafin circular sem ficar exposto aos raios de sol e a chuva. Ele ficou maravilhado, e subsequentemente enviou um relatório para o Museu Nacional, mas por conta da situação politica no pais naquela ocasião, não resultou em nada.
Ate o momento os governos sucessivos não se decidiram como vão fazer para preservar essa rica herança da raça Ioruba. Transformar num monumento nacional ou numa atração turística, não parece ser a prioridade no momento.
Sua outra pergunta, a administração e manutenção do palácio tem sido tem ficado nas mãos dos funcionários que trabalham nas divisões administrativas. E o estado paga o salário do Alaafin, assim como as despesas do palácio. O Alaafin não tem necessidade de gastar seu dinheiro para administrar o seu palácio, se assim quiser.
Mas como se pode notar o palácio é uma mera sombra daquilo que foi no passado, nos tempos coloniais.

Focus:
Qual é o processo de ascendência ao trono do Alaafin?

Alaafin:
Existem duas casas regentes principais, que são reconhecidas para gerar um Alaafin. No processo de transferência de poder de um Alaafin, a coroa é dada para a outra casa regente. O primeiro Alaafin de Oyó, Oba Atiba, formou uma convenção constitucional dos Iorubas, antes de falecer, para discutir o processo sucessório para que quando morresse a questão sucessória não fosse interrompida. A conferência concordou que um Aremo(príncipe coroado) que normalmente morreria junto com seu pai, não seguisse mais essa antiga tradição. E se fosse capaz e valoroso pelos Oyomesi (os fazedores de reis) para ser indicado como Alaafin, ele seria coroado. Outros aspirantes ao trono, elegíveis e vistos pelos Oyomesi como qualificados para carregar responsabilidades pesadas, seriam apontados para a regência.
Com a morte de Atiba, Kurumi , o Aare Ona Kakanfo daquele tempo (sec XV) renegou suas atribuições. Mas outras nações Iorubas discordaram dele, para que a sua indicação fosse sustentada. Isso motivou a guerra de Ijaiye, que ceifou a vida dos Kurunmi e todos seus cinco filhos. Por esse motivo a sucessão do trono voltou-se para as duas principais casas regentes Ladigbolu e Adeyemi.

Focus:
O que Kabiyesi pensa que é necessário fazer para tornar mais relevante a instituição tradicional para a sua nação em termos políticos?

Alaafin:
A instituição tradicional tem contribuído para o discurso politico da nação. Alguns de nos tivemos problemas, especialmente durante a era Abacha, por sermos muito audaciosos e francos. Apesar de nosso oficio como Oba não participar em politica, nos fazemos relevantes na realidade politica do pais oferecendo conselhos construtivos aos lideres.
Nos temos canais através dos quais atingimos as autoridades. Usamos tanto diplomatas quanto contatos pessoais para darmos nossas sugestões, com a finalidade de aprimorar a nação. Fica para eles a decisão de aceitar e agir por esses aconselhamentos.
Retirando do rico reservatório de conhecimento e sabedoria dos nossos antepassados, Eu acredito que estamos estrategicamente colocados para fornecer aconselhamento para os que estão no poder, e guia-los para tomarem boas decisões. Isto porque, ontem hoje e amanhã estão ciclicamente relacionados. Hoje é o futuro de ontem, e para amanhã, hoje será o passado, portanto para que sejamos relevantes, olhamos substancialmente para aquilo que aconteceu no passado e dai retiramos nossas sugestões.
Não estamos competindo com nossos filhos e filhas que detém o poder politico na atualidade, mas numa democracia, onde a utilidade de nossas soluções pragmáticas para problemas, da maneira como foram experiências pela instituição tradicional, não deve ser sobre enfatizada. A instituição tradicional é bastante relevante nesse esquema, porque está mais próxima das raízes, onde reside o poder das massas. Os governantes tradicionais são reverenciados e tomados em alta estima, tendendo a ter mais aderência e controle sobre a população.
Como pais tradicionais da nação não cessaremos de aconselhar concretamente e sugerir para as autoridades, no beneficio de nosso povo. É com eles escutar-nos ou agir de outo modo.

Focus:
O que VM. fazia antes de ascender ao trono de seus antepassados?

Alaafin:
Eu era um corretor de seguros antes de me tornar o Alaafin de Oyó. O concurso para a minha indicação para Alaafin começou em 1968. Fui convidado junto com dez outros candidatos de minha casa regente que concorriam para a vaga no trono. Minha candidatura foi aprovada pelos canais competentes, (através de Babayaji, que é a cabeça mor da princesa). Ele nos levou para Oyomeji analisar e passamos por uma serie de procedimentos.
Ha três parâmetros pelos quais somos julgados. O primeiro é a elegibilidade, que é a nossa proximidade com a coroa. Em segundo lugar a popularidade, e em terceiro a capacidade de carregar a responsabilidade no oficio de Alaafin de Oyó. Fomos colocados diante de uma rigorosa observação e questionário no fim dos quais eu obtive sucesso.
Entretanto, o governo na época se recusou de me dar o endosso para minha indicação, dizendo que o procedimento não estava correto, mas nos sabíamos que aquela ação era mais politica, devido aos aborrecimentos com meu falecido pai, quando tinha sido Alaafin.
O processo recomeçou novamente, no entanto Oyomesy me selecionou, e pela segunda vez Eu fui recusado na aprovação do governo. Uma imensa pressão foi depositada sobre Oyomesy contra minha escolha porque o governo tinha investido interesse no seu próprio candidato. Mas Oyomesy ficou firme! O processo foi colocado em seguida em ponto morto, até o termino da guerra civil, quando começaram a afrouxar. E Oyomesi me selecionou de novo.
Fui escolhido pelos fazedores de reis no dia 18 de Novembro de 1970 e o governo aprovou e promulgou a minha coroação em Dezembro de 1970, e eu me mudei para o palácio apos completar os ritos necessários.
Durante o processo, somos introduzidos nos mistérios de vários deuses, como Ifa e Xangô. Também somos preparados para nos tornarmos os representantes diretos dessas divindades na terra. Você é iniciado para aprender os cânticos, os provérbios e os Orikis de todos os Obas antecessores.
Você tem que ser capaz de conhecer as canções que louvam Ifa, assim como compreender os sons e os tambores de todo o território Ioruba, tais como Bata, Apekpe, Gangan, Dudun, Shekere, e Agogô. Somente após o domínio desses tópicos é que você é coroado.
Fui coroado numa cerimonia impressionante no dia 14 de Janeiro de 1971.

Focus:
Kabiyesi, VM. costumava lutar box, ainda pratica?

Alaafin:
Eu também corro jogo futebol, mas as pessoas me conhecem mais pelo box. Já obtive prêmios nestes e noutros esportes. E ainda corro e faço caminhadas. Faço por volta de seis quilômetros diários quando o tempo permite, e não tenho compromissos oficiais, nos sábados e domingos. Eu ainda me seguro bem. E devido solicitação da minha responsabilidade, tento não ter momentos de monotonia na minha vida. Tenho boa saúde.

Focus:
Qual a comida favorita de Kabiesy?

Alaafin:
Como Amala, Abula e Ogi. Comida normal, simples!

Focus:
Existe algum choque entre a sua fé como muçulmano e as solicitações de seu oficio da tradicional custódia a suas heranças culturais?

Alaafin:
A raça Ioruba é das mais organizadas no mundo. Somos liberais no sentido de que não é permitida à religião galgar o governo.
Eu não me incomodo qual a fé que você pratica, dentro do meu gabinete de Alaafin, o que me importa é a sua contribuição para melhorar a nossa comunidade. Isso é essencial.
Como pai de todos os Alaafin pratica sua própria religião sem discriminar ninguém na escolha de sua inclinação religiosa.
Posso recitar o Corão assim como fazer referências à Bíblia. Mas também me sinto à vontade com os sacerdotes de Ifá assim como posso me comunicar com as divindades de Xangô nas suas próprias línguas.
Sou liberal naquilo que concerne à religião. Mas não brinco com minhas preces como muçulmano porque eu aprecio muito o Corão. Deve ser do vosso interesse saber que fui criado num lar estritamente cristão, em Lagos, onde também frequentei uma escola católica. Sou uma livre mistura.

Fonte:
Focus Magazine

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