Os Ancestrais Afro-brasileiros e os problemas atuais para o
futuro do candomblé
A participação dos antigos africanos yorùbá aqui trazidos,
em meados de 1820, cientes de sua permanência pelos laços familiares criados,
começou a se organizar em pequenas reuniões, desejosos de estabelecerem um
sistema de trabalho religioso que mantivesse vivas suas tradições. Foram
discutidos os modelos do culto, os ritos que seriam empregados e os que
deveriam ser abolidos, por não se enquadrarem com a forma cultural da terra.
Foi um trabalho que a oralidade procurou construir uma tradição própria. Alguns
dos temas revistos por esses ancestrais e legados às gerações posteriores podem
ser assim resumidos. As citações feitas são necessárias, face aos dias atuais,
com movimentos que tendem a se alastrar, na busca de novos valores religiosos
junto a pessoas duvidosas, embora africanas, no conhecimento que dizem ter. à
partir de 1974, Rio de Janeiro e São Paulo receberam grupos de bolsistas
universitários nigerianos, que, ao aqui chegar, perceberam o interesse que a
pessoas daqui tinham de seus conhecimentos das coisas de Òrìsà. Na revista
Ciência hoje, edição 57, de setembro de 1989, destacamos o seguinte texto: “...
a universidade de São Paulo, através da coordenadoria de assuntos culturais,
passou a promover um curso anual de língua yorùbá... mas certos bolsistas
nigerianos logo perceberam que seus alunos estavam mais interessados nos
conhecimentos dos mitos e ritos das divindades yorùbá... sendo que, na sua
maioria estes professores já vinham convertidos ao Islamismo ou cristianismo, e
tiveram que aprender as coisas de Òrìsà aqui... aos professores cabia encontrar
bibliografia, que guardavam a sete chaves, e aprender coisas do candomblé
brasileiro, circulando por muitos terreiros, já investidos de autoridades do
culto. Esta situação também ocorreu no Rio de Janeiro, disputado por esses
estudantes nigerianos, na criação de cursos de diversas modalidades, entre os
quais, e em grande evidência cursos para a iniciação a Ifá. Sem qualquer
critério de seleção para verificação de aptidões naturais para a pratica, pois
o interesse de ambas as partes era e tem sido o lucro financeiro. Este conjunto
de situações, aliado àqueles que vem se tornando comuns, como iniciação em
terras africanas, iniciação ao culto de Ifá em Cuba, titulo de Rei do candomblé
dado por soberano africano sem qualquer respeito às nossas instituições, motiva
uma preocupação profunda para o futuro do candomblé no Brasil. Não vamos
discutir a legitimidade deste processo de dispersão de autoridade, mas sim
repensar nossos valores que vem sendo esquecidos; em outras palavras, o
desrespeito às nossas tradições ancestrais afro-brasileiras que, de uma forma
heróica, foram mantidas através de varias gerações. Esses fatos revelam o
compromisso do candomblé do Brasil na manutenção desta religião. Foi isto que
Ìyá Nàsó e seu grupo na época, previram para o Brasil, quando decidiram
organizar a religião, adaptando-a ao meio brasileiro. Esta tendência à busca de
“novos” conhecimentos é baseada na desconfiança da primeira casa de candomblé
escolhida. São raras as pessoas que fazem as obrigações de 1, 3, 7, e ate de 14
anos, no mesmo candomblé onde foram iniciadas. São idas e vindas, e troca
constante de casas, numa autêntica dança de caranguejos. E a cabeça da pessoa
passando por diversas mãos sem qualquer critério ético. Acreditamos que isto se
torna mais perigoso do que as incursões de outras religiões, na tentativa
constante de arrebanhar pessoas para o seu meio. Aliado a isto estão os valores
morais, já esquecidos, descaracterizando a religião. Todo candomblé possui o
seu Odù próprio e o Àse das gerações, que precisam ser devidamente absorvidos
para uma comunhão perfeita entre o Òrun e o Àiyé.
Bibliografia pesquisada:
José Beniste \ Òrun Àiyé.